O tão aguardado e temido resultado do segundo trimestre de 2025 do Banco do Brasil (BBAS3) finalmente foi divulgado, e os números trouxeram um choque: o lucro líquido ajustado caiu 60% na comparação anual, atingindo a marca de R$ 3,8 bilhões. Esse resultado ficou bem abaixo das projeções mais pessimistas do mercado, que esperavam uma queda, mas não tão acentuada.
A notícia gerou pânico em muitos investidores. Mas, antes de tomar qualquer decisão precipitada, é fundamental entender os motivos por trás dessa queda e se há, de fato, motivos para vender ou se é uma oportunidade de compra no longo prazo.
Para entender a queda, é preciso lembrar como um banco lucra. Basicamente, ele capta dinheiro de nós, investidores (via poupança, CDBs, etc.), e o empresta a empresas e pessoas, cobrando juros. A diferença entre os juros cobrados e os juros pagos é o que chamamos de spread bancário, a principal fonte de lucro.
O que está acontecendo é que esse spread está sendo corroído por uma série de fatores, principalmente o aumento da inadimplência. Os calotes, especialmente do setor do agronegócio, são o grande problema.
Vamos aos principais fatores que explicam esse cenário:
Alta da Taxa Selic: O aumento da Selic de 2% (em 2020) para 15% (em 2025) encareceu o custo do dinheiro, tornando mais difícil para empresas e produtores rurais pagarem suas dívidas.
Crise no Agronegócio: O Banco do Brasil, por ser o principal banco do agronegócio no país, foi diretamente afetado. Embora a safra atual seja recorde, os reflexos de safras anteriores prejudicadas por quedas nos preços das commodities e problemas climáticos, somados aos custos elevados de insumos, criaram um acúmulo de dívidas.
Nova Lei de Falências para Pessoas Físicas: A atualização da lei em 2020 permitiu que produtores rurais na pessoa física pudessem pedir recuperação judicial. Isso abriu uma brecha legal que, segundo analistas, tem sido incentivada por escritórios de advocacia, criando um "risco moral" e facilitando o calote.
Garantias de Crédito Ultrapassadas: A principal garantia do Banco do Brasil em contratos com o agronegócio é o "penhor de safra". O banco tem o direito de pegar a safra em caso de calote, mas o grão fica armazenado com o próprio produtor. Isso dificulta a execução da garantia, pois o banco não tem a custódia física do produto. Outros bancos usam garantias mais seguras, como a alienação fiduciária de terras, que são mais difíceis de burlar.
Manutenção do Índice de Basileia: Para manter a segurança e a solvência do banco, é preciso ter um percentual do capital em caixa para cobrir eventuais calotes. Com a alta inadimplência, o banco precisa provisionar mais dinheiro, ou seja, guardar uma fatia maior de seus lucros para cobrir esses riscos, o que impacta diretamente o resultado final.
Diante desse cenário, a grande questão é: vale a pena comprar, vender ou manter o Banco do Brasil?
É crucial olhar para a história. O Banco do Brasil é uma instituição centenária, com origem em 1808. Ele já sobreviveu a hiperinflação, crises rurais passadas (como as de 1995-2002 e 2015-2016) e diversas turbulências. A empresa tem ampla capilaridade no Brasil e, com certeza, vai precisar revisar suas práticas de crédito para se adaptar a essa nova realidade.
O processo de recuperação não será rápido, podendo levar um ou dois anos, mas a tese de que o banco se recuperará no longo prazo é forte. A queda no preço das ações, que passaram de R$ 30 para R$ 20, já reflete a situação atual.
Ao analisar os números de forma realista, com base em um lucro mais pessimista de R$ 18,8 bilhões (que considera os resultados já divulgados e projeta um cenário conservador para os próximos trimestres), o lucro por ação (LPA) seria de R$ 3,28.
Embora uma projeção de dividendos a curto prazo não seja tão atrativa, uma análise de valor intrínseco (que considera o valor do banco a longo prazo) mostra que, para quem investe com foco no crescimento futuro, o preço atual ainda é extremamente atrativo. O Banco do Brasil pode demorar a se recuperar, mas, em uma perspectiva de 2 a 5 anos, a tese de que ele voltará a dar a volta por cima é sólida.
Se o seu objetivo é comprar para o longo prazo e acumular um ativo de valor, a queda pode ser uma oportunidade. Se o objetivo é apenas receber dividendos no curto prazo, pode ser um momento de cautela. A decisão, como sempre, deve ser baseada em sua estratégia e no seu apetite a risco, mas sempre sem pânico.