A pergunta “por que a economia brasileira não cresce como a de outros países?” ecoa em debates, mesas de bar e reuniões de governo. É um enigma que permeia a vida de milhões de brasileiros, que mesmo em meio a dados econômicos positivos, como a redução do desemprego e o aumento da renda, sentem que a prosperidade real está sempre fora de alcance.
A resposta, complexa e multifacetada, aponta para uma série de problemas estruturais que impedem o país de decolar. Não é apenas um "voo de galinha", um crescimento rápido e insustentável, mas sim uma incapacidade crônica de sustentar um avanço econômico.
Economistas apontam que a tragédia do crescimento brasileiro, especialmente a partir dos anos 80, não pode ser explicada por um único fator. Vários elementos se combinam para travar a economia:
Problemas Fiscais: O governo brasileiro gasta mais do que arrecada e, para cobrir o déficit, precisa pegar dinheiro emprestado da sociedade, elevando a dívida pública e, consequentemente, as taxas de juros. Atualmente, a dívida pública do Brasil em relação ao PIB é de 81,2%, um número que se destaca negativamente em comparação a outros países emergentes, como Chile (40%) e México (40%).
Governo e Gasto Público: Um dos principais motivos para o desequilíbrio fiscal é a concessão de benefícios fiscais a setores da economia, que totalizam 4% do PIB. Além disso, os gastos com a máquina pública, especialmente a folha de pagamento de servidores, chegam a 10% do PIB, quase o dobro do que a Índia gasta.
Baixa Produtividade e Educação: Apesar de o Brasil gastar em educação uma porcentagem do PIB semelhante à da Alemanha, o retorno é baixo. A falta de uma mão de obra qualificada e de investimento em tecnologia afeta diretamente a produtividade, tornando a indústria brasileira pouco competitiva. O país se industrializou sem o devido acompanhamento do desenvolvimento educacional, o que se reflete na ausência de grandes empresas brasileiras no cenário global, em contraste com a China e Coreia do Sul, que geraram gigantes como Huawei e Samsung.
Protecionismo e Isolamento Comercial: Por medo da concorrência, o Brasil adota um alto protecionismo, com tarifas elevadas e barreiras comerciais. Isso impede a conexão com o mundo e a participação em parcerias internacionais estratégicas, como o Mercosul, que muitas vezes não avança como deveria. Enquanto o mundo fecha acordos e amplia o comércio, o Brasil se isola, perdendo oportunidades de crescimento.
Crises Recorrentes: O Brasil tem um histórico de crises fiscais recorrentes. A grande quantidade de crises econômicas ao longo das décadas, em comparação com outros países emergentes que experimentaram poucas ou nenhuma, mina a confiança dos investidores e impede um crescimento contínuo e estável.
A solução para esse enigma não é uma "bala de prata". O caminho é longo e exige uma estratégia de duas frentes:
Arrumar a Economia: É fundamental controlar os gastos públicos e buscar o equilíbrio fiscal. Medidas como as reformas tributária, da previdência e administrativa criam um ambiente mais favorável para a redução dos juros, o aumento do investimento e o crescimento da economia. O dinheiro mais barato impulsiona a produção, a inovação e a competitividade.
Preparar a População: O investimento em educação é crucial, mas é preciso gastar de forma eficiente. Uma mão de obra bem formada é a base para um crescimento perene, que não seja apenas um "voo de galinha". Com educação e produtividade, o Brasil pode inovar e garantir seu lugar no mercado global.
O diagnóstico é claro. A cura, entretanto, exige um esforço conjunto de toda a sociedade: governo, empresários, investidores e cidadãos. A jornada é longa, mas a recompensa — um Brasil que cresce mais, de forma mais consistente e para todos — vale cada esforço.